quarta-feira, 2 de setembro de 2009

marcas

e num dia desses, a tarde estava parecendo aquela, de seis anos atrás. eu andava naquela praça, que até hoje é do mesmo jeito. agora, minha cabeça está mais bagunçada. eu penso em mãe, pai, tia, primo, aluguel, telefone, texto, seminário, ônibus, passagem, roupa suja, banheiro...
talvez naquele dia a minha ingenuidade e vontade de me aventurar fossem tão grandes, que me davam uma ilusão maior de felicidade.
mas mesmo hoje, com todas essas coisas na cabeça, eu pude sentir. eu vi aquele cara de camisa xadrez, bermuda e all star caminhando na minha direção. ouvi o barulho daqueles penduricalhos que ele carregava na bermuda. senti soprando os meus cabelos, o mesmo vento que soprava os dele. aqueles cabelos tão lisos, tão pretos. meu coração pulava e ficava inquieto por saber que ele vinha me encontrar.
eu era só uma menina. 16 anos, uma sandália de couro velha nos pés, uma blusa roxa de algodão com estampa de tai dai (não sei se é assim que se escreve) que eu mesma fazia, brincos grandes, cabelos encaracolados, embaraçando-se com o vento.
por dentro, uma menina. acabara de chegar nessa cidade. acabara de sair de casa. estava me sentindo só, porém orgulhosa. tanta coisa ainda estava por vir.
e esse momento hoje faz parte da minha vida, da minha história.
inevitavelmente, aquele cara vai estar na minha lembrança pra sempre. como alguém que transformou certezas em dúvidas cruéis. como alguém que me ensinou o que é não ter medo das próprias atitudes. como alguém que acima de tudo, é ele mesmo. a todo momento.
hoje, enxergo esse passado como parte eterna de mim. entendo a construção do meu presente através de cada um desses momentos marcantes.
e espero, ansiosa, pelos que vou lembrar no futuro.
tem pessoas, que mesmo sem querer ou sem saber, transformam a gente. fazem a diferença, apenas por existirem. não consigo aceitar que seja apenas uma coicidência, certas pessoas passarem pela vida da gente e deixarem em seu rastro coisas tão importantes pra nós.
- Rodrigo, você é sempre muito bem-vindo.

Um comentário:

Jaya Magalhães disse...

Todo mundo tem o seu Rodrigo em algum momento da vida. Teu texto me fez enxergar o bom de viver, Cá. Do amanhã que vai ter recordação do hoje. Do quanto o agora é responsável pela gente.

Lindas tuas marcas.

Beijo, frô.