quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quem é Rei nunca perde a majestade

Minha tia me explicou, quando eu comecei a gostar de gatos, que os bichanos quando ficam roçando na gente, é porque querem nos mostrar que nós "somos deles".
E aí você chega, conversa, me olha. E depois pisa no meu pé, sorri pra mim. Passa a mão no meu cabelo, olha o meu decote. Se aproxima, fala no meu ouvido. Faz piadinhas sem-graça que quase me matam de rir.
Mas depois você vai embora... e não me chama!
E o pior é que você sabe que eu iria.
O meu corpo, o meu sorriso sem-graça me denuncia. A minha gargalhada e minhas bochechas vermelhas me denunciam.
Não sei o que acontece, mas perto de você eu me calo. O meu corpo todo suplica por uma atitude, mas eu fico ali, parada, esperando, arrepiada. Não sei o que dizer, o que fazer.
Não sei se vou ou se fico. Não sei se peço, ou se nego às súplicas da minha pele pelas suas mãos.

Sabe?
Eu tenho que me segurar durante os dias que se seguem pra não perder as tardes pensando no seu jeito. Se eu me permitisse, seria evidente a paixão. Seria óbvio eu me envolver com suas cores descombinadas, seus cabelos tão charmosos, sua barba irresistível, seu sorriso de galã.


Ai, tô precisando! Muito!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

eu tentei

tentei sim, juro. e tô tentando até hoje. eu fui pra lugares diferentes, festas, butecos. conheci muita gente. muitos homens.
li vários livros, poemas, jornais e revistas. ouvi músicas de todos os ritmos.
eu tentei radicalmente.
te coloquei pra fora. fui embora, fechei a porta e saí por aí. peguei carona, peguei outro ônibus. saí de perto.
mudei de calçada quando te vi. atravessei a rua pra não te olhar. fingi que não estava ali.
olhei pra outros rostos. dancei em outra pista.
mudei de canal, virei o disco.
e você também fez tudo isso. nós dois fugimos um do outro. negamos um ao outro. evitamos encontros, bloqueamos e excluímos.

mas eu não esqueci. nada, nunca. nem um pouco.
ainda sinto cada detalhe da sua presença em mim.

e você? esqueceu?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Bernardo

A nuca branquinha e limpa. Cortou o cabelo faz uns 15 dias, quando chegou na sala com mais cara de bebê. Um alargador na orelha esquerda dá o charme. Seus cabelos parecem tão macios... minhas mãos morrem de vontade de experimentá-los num passeio. É uma delícia ficar reparando-o assim por trás. Estou sentada atrás dele. Quando entrei na sala, atrasada pra variar, ele sorriu e disse que eu sumi. Eu sorri também e respondi que não vim mesmo na semana passada. Toda hora ele se mexe um pouco e olha pra trás com rabo-de-olho. Não sei se percebe que eu fico o reparando.
Hoje ele está vestindo uma jaqueta que parece de motociclista esportivo. Motociclista urbano. Eu me lembro da cena final de Le Fabuleux Destin d'Amélie Poualin. E agora fiquei vermelha, porque ele acabou de se virar pra trás e perguntar se eu vou viajar no feriado. Mal sabe ele que eu já estou viajando, me imaginando na sua garupa, agarrada em seu corpo, cheirando sua nuca branquinha.
Me disse uma vez que é zagueiro. Daqueles marrentos, que metem porrada. Disse que joga às vezes num campo perto da minha casa. E eu fiquei rindo que nem boba, porque adoro futebol e achei graça no jeito dele falar paracendo criança. Mas nesses papos no caminho do ponto de ônibus ele também falou na namorada, que torce pro mesmo time que eu. Pena.
Nem tudo é perfeito.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

ácido

segunda-feira, 08 de junho de 2009. por volta do meio dia - deveria ser mais ou menos 12:35 - eu descasco uma laranja verde, que por dentro é amarela. um amarelo vivo, mas nunca laranja. Encosto os lábios resssecados de frio e sinto o seu gosto - doce misturado com azedo - ácido. eu adoro laranja.
eu escuto as pessoas ao meu redor e imagino como é a vida delas. imagino se elas são felizes, se elas gostam do que fazem, essas coisas. eu imagino como é a minha vida. já disse que estou no meio do caminho. mas não disse sobre certas coisas que me assustam. coisas que eu descubro aos poucos, em cada página virada. mas ainda não decidi se são coisas boas ou coisas ruins.
quando eu era pequena, eu sabia que desenho as pessoas faziam de mim. eu era uma boneca. uma boneca de porcelana. daquelas que quebram e por isso são tão frágeis. eu era meiga, carinhosa, bonita e inteligente. eu ficava linda vestida de caipira nas festas juninas da escola. minha tia me enfeitava toda e me vestia com os vestidos lindos que eu ganhava da minha prima rica do Rio. ninguém tinha vestidos tão lindos, tão rodados e tão originais como os meus. eu fazia teatro na escola e perdia toda a timidez cotidiana. arranjei no caminho uma terceira avó. era uma velinha que morava perto da escola e ficava sempre na varanda da casa quando eu passava. nós sorríamos uma para a outra. e parecia que a gente se entendia assim. eu nunca parei pra perguntar seu nome. nunca perguntei se ela tinha netos. mas eu gostava tanto dela!
pra driblar a timidez, minha mãe me colocou no teatro. e foi muito bom. mas não perdi nada! só desviei. hoje acho que ela tá aqui ainda, por todos os cantos de mim. mas no teatro eu pude ser mais alguém além do que eu achava que era. e ser alguma coisa desde cedo era difícil, porque eu era a boneca, lembra? as pessoas diziam que eu era. e eu acabei acreditando que eu fosse. daí eu fui a Feiurinha, do Pedro Bandeira. foi lindo. sei de cor todas as falas até hoje. e não só as minhas, mas de quase todos os personagens. eu amava aquilo. aquilo era eu, de verdade. e eu fui miss também. fui miss baby, com 7 ou 8 anos. não me lembro bem. mas fui. mais uma vez eu era a boneca.
e hoje? e agora, chupando uma laranja ácida. onde está a meiguice? onde foi parar a fragilidade?
tem hora que eu fico triste. acho que não sou mais meiga. essa era a minha qualidade: a meiguice. hoje eu acho que não sei mais ser carinhosa com as pessoas. ou elas não enxergam o meu carinho. parece que me transformei numa menina sem sentimentos. só porque eu faço sexo na primeira vez e não ligo se ele não vai ligar no dia seguinte. hoje as pessoas acham que eu não sou romântica, porque falo que o menino dos olhos azuis é um grude. mas ninguém enxerga aqui dentro. ninguém vê as coisas que eu sonho antes de dormir, todos os dias. ninguém sente o meu coração disparar quando eu vejo aquele maldito pirralho-caipira.
houve um tempo, em que meu coração parou mesmo. e eu sei que essa história já enjoou, mas foi mesmo por culpa dele. sim, depois dele, meu coração não batia por mais ninguém. conheci homens bonitos, interessantes, simpáticos, bons-de-cama. mas o meu coração não batia. podia ser legal o papo, a noite, a pegada. mas o coração continuava quieto.
aí veio um dia, depois de tanto eu te botar pra fora, a sensação dolorida de que você finalmente tinha ido embora. eu te chutei tanto que você foi. e até agora não voltou. e o meu coração calou. porque ele sabia que tava errado em te querer de volta. ele sabia que não podia mais te pedir perdão. ele sabia que já tinha te maltratado o bastante pra você agora buscar a felicidade em outro colo.
agora meu coração bateu. bateu por causa de um pirralho-caipira. mas eu ainda não senti a mesma coisa. e eu sei que vou ser chata mais uma vez. mas é verdade, não posso mentir. hoje, como sempre, eu volto a sentir a sua falta. nem é só de você como meu homem, mas de você. de você de qualquer jeito.
eu sinto saudades de saber de você. queria tanto participar de alguma forma da sua vida. queria tanto que você me contasse dos seus planos, das suas conquistas, do seu dia. da nova banda - se é que tem. da nova peça - se é que você vai atuar. da camisa nova que comprou. do esquipamento que você vai ganhar. do show que você vai fazer. sim, eu queria.e queria também te contar tudo. tenho tantas novidades pra te contar. só queria que você quisesse escutar.
eu acho que a boneca, meiga, linda, não existe mais. porque eu preciso ser mais forte. preciso aguentar o nó na garganta. preciso tomar conta da minha vida. preciso escrever artigos, publicar artigos, ler artigos. eu preciso comer menos, dormir menos, realizar mais. preciso correr contra o tempo e aproveitar os minutos. correr atrás do tempo perdido. preciso chegar na hora e esquecer da hora de sair. não dá tempo de deixar o coração bater. não dá tempo de esperar você aparecer. não dá tempo de te pedir desculpas. a vida não pára. o mundo dá voltas. e eu tenho que parar de te procurar nessas curvas, nessas esquinas. o meu caminho precisa ser seguido. de mãos dadas com você ou não, eu preciso andar. e rápido.
Pode parecer sem sentido, pode ser repetitivo. Mas é a falta. E é o que eu sinto.